quarta-feira, maio 02, 2018

Zé Brasileiro Português de Braga


Quando cheguei a Portugal, em 1990, já fazia uns dez anos que a música Zé Brasileiro Português de Braga tinha feito um enorme sucesso e ainda repercutia. O jargão me acompanhou por muito tempo. Ao me apresentar, alguém mandava logo com o “Brasileiro de Braga?”. É daquelas músicas chicletes que se você a ouve pela manhã, passa o dia com ela no ouvido. Um refrão que não há quem não assobie. Para balançar o capacete então nem se fala! Passei vinte anos em Portugal e até fui a Braga, mas não cheguei a perceber isto do ser português de Braga. Imaginava que talvez por ser desta cidade grande parte dos que emigravam para o Brasil. Ou poderia se tratar de alguma figura folclórica regional. Ninguém me respondia direito. A maioria dizia que era só por causa de uma música que a Alexandra cantou num Festival da Canção e que foi tão tocada que chegou a saturar, como é comum acontecer com os “hits”.

Quatro anos depois de estar de volta ao Brasil,  aos amigos da terrinha, recebemos o convite do Rodrigues Vaz para irmos a Constância conhecer o Zé Brasileiro Português de Braga. Achei que o amigo estava com reinação. Não estava. Fomos ao palacete de três andares, todos três muito bem ocupados por gatos, chuchus amarelos, arte para todo lado, relíquias, desenhos de Burle Marx... e um museu com a vida e obra do grande poeta e ator Vasco de Lima Couto, de quem nosso anfitrião nos presenteou com um envelope cheio de poesia, como tudo naquele casarão abençoado.  No envelope, o poema que serviu de letra para a canção que António Sala musicou como prenda de anos para o José Ramoa, o próprio Zé Brasileiro Português de Braga, ali, na nossa frente, todo saudade e simpatia a exaltar o amigo poeta nas tantas coisas boas que nos legou.

Identifiquei-me de cara com o poema por também ter meu tempo adolescente de perdido nas avenidas de Copacabana.

Eliana deu-me a ideia de colocá-lo em uma música que permitisse mais facilmente perceber-se a profundidade daquele mar. Para tal, pensei logo no fado, ao qual o próprio silêncio obriga. Mas havia que ter um sotaque brasílico consoante a história da personagem. A isto também se atinou o grupo Azeituna, que a executa em ritmo de samba, quase que invariavelmente, acompanhada de palmas e exuberante alegria. Bem, como o Fado e o Samba são irmãos, fiz uma melodia sem muita firula para cantora Roberta (Romi Kari Oca), que tão bem se adapta aos dois modos, combiná-los. Porém, o ideal é deixar o poema caminhar por si só, ainda que devagar... o céu é redondo.




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