quinta-feira, janeiro 28, 2016

Eu vi um médico chorar.

Eu vi um médico chorar. 
Primeiro, atrapalhei-me com o mecanismo de revestir o guarda-chuva junto à escada rolante. Fiquei boquiaberto com a destreza da velhinha que, com um só movimento executou a ação que eu, depois de estragar dois sacos plásticos, só consegui finalizar com as mãos a colocação da grande camisinha para que os pingos comuns lá de fora não impregnassem o piso impoluto daquele shopping da Zona Sul do Rio de Janeiro. Fiz o que devia fazer. Antes de sair, fui ao banheiro e, logo de cara, espantou-me a qualidade do papel higiênico, as toalhas descartáveis, os protetores sanitários... A limpeza! Parecia uma sala de cirurgia. Aí, lembrei-me do médico que vi chorar. Numa manifestação por melhores condições de trabalho, dizia ele, aos borbotões: “Não temos gaze!” 
                                                                           (Oliveira de Castela)