segunda-feira, fevereiro 20, 2006

INVITAÇAO

Vem amiga
ouvir minha cantiga
vem amiga
viver o meu sonhar
(um mundo ninho
pra gente se amar)
Vem ver
o sonho na canção
sentir
versos brandos
ao som do coração

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

CASSIANO

A Francisco Ruivo

Que moeda é aquela
Que tanto brilha
No bolso do mendigo
E o faz tão rei?
É um poema bem sei!

HOMEM

Homem?
Homem, para quê?
Homem só serve para
Para ...
Mijar a tampa da sanita
Não fazer nada direito
Nada, nada...
Nada!
O quê que o homem faz bem?
Faz...
Lava bem o automóvel.
Isso. Isso, faz bem feito
E só.
Nem discutir futebol...
Quer sempre analisar
Asnalisar.
Isso.
O homem vive asnalisando.
Até pouco tempo atrás,
Na Idade da Pedra,
O homem sentia um cheiro e zás
Estupro!
Tinha sentido.
Servia para manter a espécie.
A prática continua
Mas, com os avanços da Ciência...
A ciência acabou com o macho
O que, em algumas espécies,
Foi selecção natural
O engenho humano antecipa e extirpa.
Extirpa o estupro
Sem precisar amazonar
Nem esperar milhões de anos.
Fim
E vivemos felizes.

Homem não presta.
Homem, o macho
É uma meleca!
Sabe o que eu acho?
Homem só presta se for poeta.

FEIJAO

Às cozinheiras do "O Casarão"


Jesus Cristo vem ao mundo
Montando um cavalo baio
Vai andar mais de mil léguas
Pra comer feijão com paio

MIRA A DISTANCIA

Vou cantando o meu amor
pelo caminho
Vou chorando a minha dor
de estar sozinho
Ontem, a felicidade
Hoje, a estrada é só saudade
E a tristeza de não ter o seu carinho
Eu vou cantando
o meu amor
Eu vou chorando
a minha dor
Vou-me lembrando do rostinho do meu bem
Eu vou cantando
o meu amor
Eu vou chorando
a minha dor
Vou-me lembrando do cheirinho que ele tem

APAIXONAR-ME POR OUTRA?

Apaixonar-me por outra mulher?
Seria coisa bem simples
Bastaria apenas que a outra
Tivesse o mesmo cheirinho
Inebriante, adocicado
Tivesse o mesmo gostinho
De um acre bem temperado
Tivesse o mesmo rostinho

Apaixonar-me por outra?
Isso é coisa muito fácil
Se a outra tivesse igual
Aquele corpo gostoso
O olhar misterioso
Cabelos pretos, em anéis
Também iguais fossem os pés
A mesma pele sedosa
E, da mesma forma, vaidosa

Por outra não me apaixono?
Até parece piada
É só encontrar a que seja
Tal qual a tal em questão
Por fora, imagem de espelho
Por dentro, igual coração

Ah! ia esquecendo o nariz
Tem de ser do mesmo jeito
Graúdo e arrebitado
Que lhe dá aqueles ares
De comigo-tome-cuidado

Eu me apaixono por outra
Fácil-fácil, mole-mole
É só ter a mesma alma
Mesmo jeito brigador
E, feito esta, tem que ser
Um ás no jogo do amor

Por outra eu me apaixono
Pois, pra Deus, nada é impossível
É só eu pedir pra Ele
Que, não me levando a mal
Pegue a forma que fez uma
E, com jeito, faça outra igual

A

A César Garcia


Rebelde sempre
De tantas lutas
Até que no mundo
Se acabem as dores
Derrotas
Tantas falhas
E muito gostaria
De receber flores

SHALOM

Sempre quis ter bicicleta
Virar ligeiro este chão
E o velho pai mal podia
Dar roupa, estudo e pão
(Fazendo muito serão)

Mas nunca me esqueci
Da alegria que sentiria
Se, um dia, pudesse eu
E todas outras crianças
Tornar o mundo menor
Pelas longas pedaladas
De alegria e fantasia

JOAO

Se digo bi
É que quero subir
Ou muito ou pouquinho só
Acima de onde estou
Já, se digo bibi
É um carro
Grande, quero ver passar
Pequeno, quero empurrar
Bite é um botão na parede
Pra apagar ou acender
Eu quero mesmo é mexer
Não confundam com bibite
Depois de tanto bulir
A chupeta, vou dormir

MAIARA

No vento que ondula o trigal doirado
Eu vejo você

Na brisa que sopra
Trazendo de longe uma canção
Eu vejo você

Na criança que ri, que brinca e que chora
Eu vejo você

No teatro, no circo
E nos pés da bailarina feliz
Eu vejo você

Nas coisas bonitas
Nas coisas covardes

Na criança morta
Paisagem frequente neste nosso mundo
Ou no tempo novo que se avizinha
Trazendo esperança

Eu vejo você

No dinheiro, no ofício
Nos contos de fada
Eu vejo você

No deserto, montanhas
No cerrado de flores tão lindas
Eu vejo você

Nas pedras, nas águas, nos bichos
Na roda-gigante
Eu vejo você

Em você, vejo três
Mais maninho e mamãe
Neles, vejo você

Na estrela da manhã
Que teima em brilhar
Mesmo quando o céu
Há muito, clareou
Eu vejo você, Maiara
Eu vejo você

FAMILIA

O vovô
Comeu e não gostou
A vovó
Reclama que ela só
O titio
Torceu o pavio
A titia
Só deseja um bom dia
Os priminhos
Só querem um carinho
A vizinha
Cria galinha
O vizinho
Tem um cachorrinho

Êta,família

A mamãe manda
E o papai
Ai ai ai ai ai ai

DUVIDA

Tu me amas!
Eu te amo?

DESENCONTROS

Fado triste
é morar na Mouraria
e ter uma gaja nas Galinheiras.
Bota outro bagaço!

A VIDA QUE EU PEDI A DEUS

É estar como o Diabo gosta

TESTAMENTO

Se eu morrer
Que o resto seja aproveitado
Quanto à alma, de nada sei
Mas, do corpo
O que estiver em bom estado
Ou quase, fica doado
Córneas boas
Sempre lubrificadas pela emoção
De tantas coisas belas
E muitas feias, que viram
Coração que aguentou
Tanto susto e paixão
Aguenta outro tanto
Fígado que fez por merecer
A Ode de Neruda
Rim que parece feito na Suíça
Pulmão
Bem, este serve, pelo menos
Para ilustrar os malefícios do tabagismo
Tudo o mais, dou-o
Para o progresso da Ciência
As vísceras que sobrarem
Deitem-nas à terra
Num pomar ou baldio
E vejam que belos frutos

AMOR ALFACINHA

Amo Lisboa
Não só por seus monumentos
Por sua história
Por suas ruas bucólicas
Amo Lisboa
Não só pelos passeios no Rossio
Caminhadas na Liberdade
Por ler Pessoa no Chiado
coisa que nunca fiz
Ou fazer nada na Feira da Ladra
O que faço regularmente
Não só pela Mouraria
Ou morar em cidade grande
Com ares de interiorana
Tão Europa
Tão africana
Amo Lisboa
Porque nela descobri
O quanto te amo

IMAGENS

Que é do Zé?
Foi na Tasca do Marquês,
bebeu vinho bom,
comeu do melhor
e ouviu um fado do Maurício.
Que é do Zé?
Desceu o Largo da Severa
com "A Bola" debaixo do braço.
Disse que foi comprar cigarros.
- O Zé? Vi-o na Ginjinha.
- Estava dando milho aos pombos na Figueira.
- Olhava as montras na Augusta.
Que é do Zé?
Que é do Zé?
- Foi em direcção ao Tejo.
A mulher do Zé voltou para a casa.

UM POEMA PARA AS MAOS

Falanges, falanginhas, falangetas
Falangetas, falanges, falanginhas
Ai!... Quebrei o dedo

POR TRAS DA NOTICIA

Um menino
foi encontrado no monturo.
De pequena estatura,
pouca idade,
pouco peso
e... dor nenhuma.
Com ele, pouca coisa:
Nos pés de brinquedo,
as chinelas de dedo;
do cós à canela,
uma rota flanela
e, na miúda mão,
uma migalha de pão.

Tudo foi pouco ou pequeno:
A notícia,
a autópsia,
a falta cometida.
De grande mesmo,
só o buraco nas costas
provocado por grosso calibre.

CANDELARIAS

A rua é das crianças
Mas nas ruas tem muito automóvel
A rua é das crianças
Mas nas ruas tem caco-de-vidro
A rua é das crianças
Mas nas ruas tem gente que corre
que compra e que vende
Nas ruas tem armas
A rua é das crianças
Ai! Mas tem tanta criança nas ruas

O MAIOR DOS PEDIDOS

No firmamento
uma estrela cadente:
Zás

Um só pensamento
em tão breve repente:
Paz

EM BUSCA DO MODERNO

Não quero escrever um poema com minh'alma
Quero escrever um poema com alma minha
Maminha?!
Já não quero escrever mais porra nenhuma

Seria um pedido...

Antes, o fel
Depois, Isabel
E a vida mel
lhorou
no llora más
Sem mais nem menos
brinquemos
Compro o anel
assino o papel
e jingle the bell
Oh, ciel!
...se eu não fosse
tão comprometido.