domingo, setembro 28, 2014

Troca-troca do Zé Mosquito

A rimar, chamo a atenção
Sem me fazer de rogado
Para esta grande alegria
Que está bem ao seu lado
Cá, no Bar do Zé Mosquito
A cesta de livro usado

A nossa cesta é de trocas
Junta o lúdico e o didático
Pra não deixar que seu livro
Na estante, fique estático
Traga alguns para trocar
Isto é um ato bem simpático

Troque Machado por Coelho
Amado por Alencar
Cecília por Coralina
Vamos brincar de trocar
O livro não envelhece
Se não se para de usar

Aparte todo esse escambo
Também lhes chamo a atenção
Que podem oferecer
Seus livros, em doação
Para suprir a carência
Da rede de educação

Aproveite bem a deixa
Para outra coisa fazer
Procure lembrar agora
Do que pegou para ler
Que, sendo livro emprestado
Se esqueceu de devolver

Se no vai e vem da vida
Já não é bom estudante
Vá à Lua com o Verne
Vá ao Inferno com Dante
Mas não deixe que seu livro
Seja ornamento de estante

Você gostou do Quixote
Outro também vai gostar
Ainda não leu Guerra e Paz ‘
Tá na hora de trocar
Dê combate à carestia
É o toma lá e o dá cá

Na escola muda-se a classe
Os livros não são iguais
Português e Matemática
Conhecimentos Gerais...
Traga ao Bar do Zé Mosquito
Os que não utiliza mais

Traga tudo para a praça
De segunda ou de terceira
Mas, fazendo o troca-troca
Cuidado, não faça asneira
Não vá trocar, por engano
Seu livro de cabeceira

                       Jorge Carlos



Adaptação dos versos que fiz para uma Feira de Troca, organizada pelo Grupo Sacy, em Rio Branco, AC quando foram cantados (e bem cantados) por Cícero Franca.

Na Estalagem do Lolô

No Lolô
Tem águas das boas
A de todos
E a que passarinho não bebe
Também tem passarinho
Tem flores
Jabuticaba
E muito mais
Nem precisa muito na algibeira

É longe! É longe
É no Vale das Videiras


Para ver mais, clicaqui.

Melhorias

Homem era tudo igual!
Um deixou de ser.
Eu mudei à beça!

sábado, setembro 20, 2014

Emanuel, o mendigo festeiro

Emanuel era muito querido. Vivia cercado de muita gente. Também de alguns que não lhe largavam o pé, mas que não lhe incomodavam, pois partilhavam gostos e interesses. Tinha certos dons que poderiam fazer dele um homem muito rico. Muito mais rico do que conseguiria ser exercendo a sua profissão. Sim, ele tinha um ofício que aprendera com o pai, mas preferiu a vida mais simples da mendicância, que lhe era tão fácil que nem precisava pedir, visto que em toda parte havia quem carecesse dos benefícios dos seus dons. A troca se fazia naturalmente e ele aceitava de bom grado fosse o necessitado um pobretão ou um ricaço. Uma galinha para dividir por doze ou um banquete era aceite com a mesma alegria, mais pelo benefício concedido que pelo recebido. Mas que ele era chegado a um bom rega-bofe, isso era! Não pensava duas vezes ao receber um convite para uma festa de casamento, um velório ou uma ceia. Certa feita, foi com tanta vontade à mesa, que o anfitrião o repreendeu por não ter lavado as mãos como era o costume naquela terra. O homem levou com uma na testa que nunca mais chamaria a atenção de alguém mesmo que esse alguém comesse num chiqueiro. Uma boa festa não se podia perder, tanto que num casamento, diante da lamentação dos donos da casa de que o vinho seria pouco para os convidados de última hora, ele resolveu logo o problema com as moringas d’água. Mesmo sem festa ou solenidade, ele não gostava de ver barriga vazia. Conta-se que numa palestra das que gostava de proferir em suas andanças, o sermão havia se alongado em demasia e o povo que era muito reclamou que a comida era pouca, ele também resolveu aplicando os seus dotes naturais. Mas, uma vez, ele passou das medidas. Vou contar como foi, que me contaram. Emanuel tinha sido chamado para um velório que aconteceria numa terra em que o costume era servir-se acepipes e bons licores aos participantes. Porém ele estava assediado por uma horda de necessitados e só conseguiu se desvencilhar quase uma semana depois do enterro ter-se realizado. Ele não conversou. Ressuscitou o homem e fizeram uma festa dupla.

Escrevi pensando no Ronaldo Rhusso que não pensa duas vezes em fazer bem o bem.

Jorge Carlos


Petrópolis, 20 de setembro de 2014

quarta-feira, setembro 17, 2014

POEMA VIVO (livro)



 (Dedicado a Maiara e João, resultado de tantos poemas)


Meus poemas sempre foram,
ainda que mal escritos,
foram poemas de luta.

Sem falar de flor ou de amor.
Falavam de pão e chão.

É assim que sempre foram.
Foram poemas de luta,
ainda que mal escritos.

Um dia, eu encontrei
alguém que também lutava.
Que não fazia poemas,
mas que lutava e lutava:
Lutas de Classes.
Lutas de casa.
Lutas de lutas.
Até por mim, também lutou...
E, para ela, Poema Vivo,
bem ou mal, eu escrevi
tantos poemas de amor.


NO CASAMENTO ERA ASSIM...


COMO NA CANÇÃO

O amor que sinto por ti
não tem a bossa dos dissonantes.
Seu tom é simples,
terno e pungente
como um Lá Menor.
Às vezes, explode
franco, alegre e forte
como um Dó Maior.
...Acidentes embelezam sua melodia.


O MELHOR DA MINHA VIDA EM TRÊS ESTROFES

Eu saí de casa cedo
Sem rumo e sem dinheiro
Dei adeus à minha terra
Meu belo rio de Janeiro

Andei todo este país
Fui até ao exterior
Procurando uma cabrocha
Pra lhe dar o meu amor

E foi nas bandas do Acre
Que um dia encontrei
A morena mais bonita
E com ela me casei


QUANDO LONGE DA MORENA

Um rio brota nos meus olhos
quando lembro da morena.
Tão distante,
tão saudade,
que a viola me tem pena.

E essa dor
que no meu peito aperta,
sempre desaguando,
é dor constante.
Esse rio
nunca seca
pois, na morena,
penso a todo instante.

Se eu tivesse
um barco de papel
bem pequeno,
bem menino,
desse meu penar,
eu tiraria o véu.
Nesse rio,
também eu, um pequenino,
não navegaria ao léu,
pois teria na morena
o meu destino.


CIRANDA DA ESPERA
(Por ocasião das lutas pelas “Diretas”)

Cantando esta ciranda
Vou até o sol raiar
Vou cantar esta ciranda
Até meu amor chegar

Esta ciranda
Linda é minha, é tua
Esta ciranda
É do povo na rua

Cantando esta ciranda
Vou até o sol raiar
Vou cantar esta ciranda
Até meu amor chegar

Esta ciranda
Eu canto a noite inteira
Para alegrar
A Nação Brasileira

“Ciranda, cirandinha
Vamos todos cirandar...”


TROVAS DE AMOR E SAUDADE

Quando me encontro distante
Daquela que tanto amo
Sou qual flor desfalecida
Que desprendeu-se do ramo

Meu corpo todo se agita
À simples lembrança tua
Deitada juntinho a mim
E... completamente nua

Meu amor vive no encanto
De estar nos braços teus
Também na saudade tua
Tão longe dos olhos meus

Iria ao encontro dela
Se fosse fácil voar
Mas, voar é com os pássaros
... Por ela, fico a esperar

O cheiro dessa morena
O néctar de sua flor
A textura de seu corpo
São meus venenos de amor

A saudade me tortura
E triste é minha canção
Só tua volta trará
Descanso ao meu coração

Teu corpo é uma linda flor
De um aroma precioso
De pétalas tão sedosas
E néctar delicioso

Os astros todos espiam
Um homem... uma mulher...
Fiquemos sempre juntinhos

Dindinha Lua assim quer


UMA CARTA DE AMOR


Se meu amor por Normélia
For a mais braba doença
Eu não quero nem pensar
Na tal da convalescência

E, se um dia, eu ficar bom
Cicatrizando a ferida
Vou fazer estripulias
Para ter a recaída


MOURÃO DE GRATIDÃO

Esta viola de fita
Que eu toco a toda hora
‘Tando aqui ou indo embora
Torna a vida mais bonita
Cada nota nela escrita
Chega a cada coração
Acabando a solidão
Pro mundo ser festejado
Isso é que é mourão voltado
Isso é que é voltar mourão

Pro mundo ser festejado
Isso é que é mourão voltado
Isso é que é voltar mourão

Levo a vida ao deus-dará
Vagando léguas e léguas
Em caminhadas sem tréguas
Mas, por mais longe que eu vá
Sempre tenho a quem voltar
Mesmo com chateação
Me recebe com emoção
E me sinto consolado
Isso é que é mourão voltado
Isso é que é voltar mourão

E me sinto consolado
Isso é que mourão voltado
Isso é que voltar mourão

Penso com muito carinho
Em minha amada que é Normélia
Que é dália, rosa, é camélia
Flores que formam um ninho
Onde findo o meu caminho
Surrado por muito chão
Sinto minha gratidão
Por berço tão adornado
Isso é que é mourão voltado
Isso é que é voltar mourão

Por berço tão adornado
Isso é que é mourão voltado
Isso é que é voltar mourão


DE NOME ESQUECIDO E CHEIRO LEMBRADO

N o meu longo caminhar
O nde só havia espinho
R ecebi luz dos teus olhos
M e alumiando o caminho
É s como um buquê de flores
L ibertando-me das dores
I ncerteza e dissabores
A dornando nosso ninho


Não sou o experto que pensava ser.
Apenas um bobo apaixonado
que, como todo romântico.
qualquer mulher faz-lhe o que quer.
Ela
é a Chica-que-manda
e eu,
o seu Contratador-sem-diamantes.
... Atropelou-me
como uma jamanta!
Mas meu amor por ela
é Prometeu Acorrentado.
Resiste.


Sentado no beiral da ponte,
pensei...
Ouvi o rio,
seu murmúrio.
Vi os barcos ancorados,
outros vagando.
O rio falou mais alto...
Ele transporta vida.
Em seu leito
há vida.
Choramos
quando algum rio é envenenado,
fazemos passeatas.
O próprio rio
com seu movimento
parece estar vivo
e não apenas ser
um composto químico inorgânico
seguindo um declive.
Não, ele todo nos mostra
vida.
Não deve ser berço
para a morte.

Por covardia ou coragem,
aqui estou escrevendo.
Uma coisa é certa.
Não é o rio
que tem que dar um jeito
em nós dois.

... E VEIO A SEPARAÇÃO


É de noite,
em minha vida
se faz dia.
Não durmo!
Espero.

Seu sol laborioso
será minha noite ociosa.
E o dia
que a acorda tão de repente,
faz o meu morrer devagar.

Deixo de pensar nela
para  com ela sonhar.



GALLARDA CELOSA
(Por causa de um espanhol)

Minha vontade, agora,
mais que fazer um poema
ou desfazer o dilema:
Ir pro bar
beber.
Descambar,
morrer.
Recordar,
sofrer.
E, quiçá,
viver.
Minha vontade, agora,
mais que fazer gallardas;
da vida, dar gargalhadas;
sair numa “flamengada”.
Minha vontade, agora,
era mesmo dar porrada.

AINDA POR CAUSA DO ESPANHOL

O muito que aconteceu
Muito pouco me doeu
“Usted quitó la alianza”
Balançou minha esperança



Todo saber da ciência
neste meu caso é em vão.
Toda filosofia...
Um bom papo
já tentei.
Fazer cenas
foi inútil.
Estou mesmo carregado,
cagado de arara,
com peso, um encosto,
azarado.
E, apesar
da minha ligeira inclinação
pro Marxismo-Leninismo,
vou acabar mesmo
partindo pra metafísica,
para o sobrenatural.
Vou fazer mandinga,
seguir as receitas de São Cipriano,
subir de joelhos a escada da Penha,
acender uma vela pra São Jorge,
benzer-me na igreja do Bonfim,
fazer romaria no Juazeiro
e visitar a Mãe Menininha.
Tomar conselho com Pai Joaquim,
encontrar com Exú, na encruzilhada,
botar pirâmide sobre a cama
e tomar banho de arruda.
Jogar o I Ching, búzio e tarô.
Consultar o oráculo
e o horóscopo chinês.
Estudar meu mapa astrológico,
banhar-me nas águas do rio Ganges,
meditar com os monges do Tibete,
dar presentes aos deuses do Olimpo,
cantar hinos a Vênus, Eros e Apolo...
Vou apelar.
Andar com pé-de-coelho,
ferradura, figa benta,
cabelo de elefante e um bentinho.
Mirar com o Santo Daime
e fazer pedido na Ponte dos Suspiros.
Atirar moedas na Fontana di Trevi,
em  qualquer fonte, poço ou mesmo poça.
Faço tudo.
Faço de tudo.
Mas tenho de achar um jeito
de estar novamente nos seus braços.


“Nur wer die Sehnsucht kennt
Wais was ich leide”

Se Goethe, como eu,
conhecesse a palavra
saudade,
talvez pudesse
expressar melhor
seu sofrimento.
A “Sehnsucht” dos alemães
não basta para tanto
sentimento.

MAS NOSSO AMOR TEM JEITO NÃO