(Dedicado a Maiara e João, resultado de tantos
poemas)
Meus poemas sempre foram,
ainda que mal escritos,
foram poemas de luta.
Sem falar de flor ou de
amor.
Falavam de pão e chão.
É assim que sempre foram.
Foram poemas de luta,
ainda que mal escritos.
Um dia, eu encontrei
alguém que também lutava.
Que não fazia poemas,
mas que lutava e lutava:
Lutas de Classes.
Lutas de casa.
Lutas de lutas.
Até por mim, também lutou...
E, para ela, Poema Vivo,
bem ou mal, eu escrevi
tantos poemas de amor.
NO CASAMENTO ERA ASSIM...
COMO
NA CANÇÃO
O amor que sinto por ti
não tem a bossa dos
dissonantes.
Seu tom é simples,
terno e pungente
como um Lá Menor.
Às vezes, explode
franco, alegre e forte
como um Dó Maior.
...Acidentes embelezam sua
melodia.
O
MELHOR DA MINHA VIDA EM TRÊS ESTROFES
Eu saí de casa cedo
Sem rumo e sem dinheiro
Dei adeus à minha terra
Meu belo rio de Janeiro
Andei todo este país
Fui até ao exterior
Procurando uma cabrocha
Pra lhe dar o meu amor
E foi nas bandas do Acre
Que um dia encontrei
A morena mais bonita
E com ela me casei
QUANDO
LONGE DA MORENA
Um rio brota nos meus olhos
quando lembro da morena.
Tão distante,
tão saudade,
que a viola me tem pena.
E essa dor
que no meu peito aperta,
sempre desaguando,
é dor constante.
Esse rio
nunca seca
pois, na morena,
penso a todo instante.
Se eu tivesse
um barco de papel
bem pequeno,
bem menino,
desse meu penar,
eu tiraria o véu.
Nesse rio,
também eu, um pequenino,
não navegaria ao léu,
pois teria na morena
o meu destino.
CIRANDA
DA ESPERA
(Por
ocasião das lutas pelas “Diretas”)
Cantando esta ciranda
Vou até o sol raiar
Vou cantar esta ciranda
Até meu amor chegar
Esta ciranda
Linda é minha, é tua
Esta ciranda
É do povo na rua
Cantando esta ciranda
Vou até o sol raiar
Vou cantar esta ciranda
Até meu amor chegar
Esta ciranda
Eu canto a noite inteira
Para alegrar
A Nação Brasileira
“Ciranda, cirandinha
Vamos todos cirandar...”
TROVAS
DE AMOR E SAUDADE
Quando me encontro distante
Daquela que tanto amo
Sou qual flor desfalecida
Que desprendeu-se do ramo
Meu corpo todo se agita
À simples lembrança tua
Deitada juntinho a mim
E... completamente nua
Meu amor vive no encanto
De estar nos braços teus
Também na saudade tua
Tão longe dos olhos meus
Iria ao encontro dela
Se fosse fácil voar
Mas, voar é com os pássaros
... Por ela, fico a esperar
O cheiro dessa morena
O néctar de sua flor
A textura de seu corpo
São meus venenos de amor
A saudade me tortura
E triste é minha canção
Só tua volta trará
Descanso ao meu coração
Teu corpo é uma linda flor
De um aroma precioso
De pétalas tão sedosas
E néctar delicioso
Os astros todos espiam
Um homem... uma mulher...
Fiquemos sempre juntinhos
Dindinha Lua assim quer
UMA
CARTA DE AMOR
Se meu amor por Normélia
For a mais braba doença
Eu não quero nem pensar
Na tal da convalescência
E, se um dia, eu ficar bom
Cicatrizando a ferida
Vou fazer estripulias
Para ter a recaída
MOURÃO
DE GRATIDÃO
Esta viola de fita
Que eu toco a toda hora
‘Tando aqui ou indo embora
Torna a vida mais bonita
Cada nota nela escrita
Chega a cada coração
Acabando a solidão
Pro mundo ser festejado
Isso é que é mourão voltado
Isso é que é voltar mourão
Pro mundo ser festejado
Isso é que é mourão voltado
Isso é que é voltar mourão
Levo a vida ao deus-dará
Vagando léguas e léguas
Em caminhadas sem tréguas
Mas, por mais longe que eu
vá
Sempre tenho a quem voltar
Mesmo com chateação
Me recebe com emoção
E me sinto consolado
Isso é que é mourão voltado
Isso é que é voltar mourão
E me sinto consolado
Isso é que mourão voltado
Isso é que voltar mourão
Penso com muito carinho
Em minha amada que é
Normélia
Que é dália, rosa, é camélia
Flores que formam um ninho
Onde findo o meu caminho
Surrado por muito chão
Sinto minha gratidão
Por berço tão adornado
Isso é que é mourão voltado
Isso é que é voltar mourão
Por berço tão adornado
Isso é que é mourão voltado
Isso é que é voltar mourão
DE
NOME ESQUECIDO E CHEIRO LEMBRADO
N o meu longo caminhar
O nde só havia espinho
R ecebi luz dos teus olhos
M e alumiando o caminho
É s como um buquê de flores
L ibertando-me das dores
I ncerteza e dissabores
A dornando nosso ninho
Não sou o experto que
pensava ser.
Apenas um bobo apaixonado
que, como todo romântico.
qualquer mulher faz-lhe o
que quer.
Ela
é a Chica-que-manda
e eu,
o seu
Contratador-sem-diamantes.
... Atropelou-me
como uma jamanta!
Mas meu amor por ela
é Prometeu Acorrentado.
Resiste.
Sentado no beiral da ponte,
pensei...
Ouvi o rio,
seu murmúrio.
Vi os barcos ancorados,
outros vagando.
O rio falou mais alto...
Ele transporta vida.
Em seu leito
há vida.
Choramos
quando algum rio é
envenenado,
fazemos passeatas.
O próprio rio
com seu movimento
parece estar vivo
e não apenas ser
um composto químico
inorgânico
seguindo um declive.
Não, ele todo nos mostra
vida.
Não deve ser berço
para a morte.
Por covardia ou coragem,
aqui estou escrevendo.
Uma coisa é certa.
Não é o rio
que tem que dar um jeito
em nós dois.
... E VEIO A SEPARAÇÃO
É de noite,
em minha vida
se faz dia.
Não durmo!
Espero.
Seu sol laborioso
será minha noite ociosa.
E o dia
que a acorda tão de repente,
faz o meu morrer devagar.
Deixo de pensar nela
para com ela sonhar.
GALLARDA
CELOSA
(Por
causa de um espanhol)
Minha vontade, agora,
mais que fazer um poema
ou desfazer o dilema:
Ir pro bar
beber.
Descambar,
morrer.
Recordar,
sofrer.
E, quiçá,
viver.
Minha vontade, agora,
mais que fazer gallardas;
da vida, dar gargalhadas;
sair numa “flamengada”.
Minha vontade, agora,
era mesmo dar porrada.
AINDA
POR CAUSA DO ESPANHOL
O muito que aconteceu
Muito pouco me doeu
“Usted quitó la alianza”
Balançou minha esperança
Todo saber da ciência
neste meu caso é em vão.
Toda filosofia...
Um bom papo
já tentei.
Fazer cenas
foi inútil.
Estou mesmo carregado,
cagado de arara,
com peso, um encosto,
azarado.
E, apesar
da minha ligeira inclinação
pro Marxismo-Leninismo,
vou acabar mesmo
partindo pra metafísica,
para o sobrenatural.
Vou fazer mandinga,
seguir as receitas de São
Cipriano,
subir de joelhos a escada da
Penha,
acender uma vela pra São
Jorge,
benzer-me na igreja do
Bonfim,
fazer romaria no Juazeiro
e visitar a Mãe Menininha.
Tomar conselho com Pai
Joaquim,
encontrar com Exú, na encruzilhada,
botar pirâmide sobre a cama
e tomar banho de arruda.
Jogar o I Ching, búzio e
tarô.
Consultar o oráculo
e o horóscopo chinês.
Estudar meu mapa
astrológico,
banhar-me nas águas do rio
Ganges,
meditar com os monges do
Tibete,
dar presentes aos deuses do
Olimpo,
cantar hinos a Vênus, Eros e
Apolo...
Vou apelar.
Andar com pé-de-coelho,
ferradura, figa benta,
cabelo de elefante e um
bentinho.
Mirar com o Santo Daime
e fazer pedido na Ponte dos
Suspiros.
Atirar moedas na Fontana di
Trevi,
em qualquer fonte, poço ou mesmo poça.
Faço tudo.
Faço de tudo.
Mas tenho de achar um jeito
de estar novamente nos seus
braços.
“Nur
wer die Sehnsucht kennt
Wais
was ich leide”
Se Goethe, como eu,
conhecesse a palavra
saudade,
talvez pudesse
expressar melhor
seu sofrimento.
A “Sehnsucht” dos alemães
não basta para tanto
sentimento.
MAS NOSSO AMOR TEM JEITO NÃO
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