quarta-feira, setembro 17, 2014

POEMA VIVO (livro)



 (Dedicado a Maiara e João, resultado de tantos poemas)


Meus poemas sempre foram,
ainda que mal escritos,
foram poemas de luta.

Sem falar de flor ou de amor.
Falavam de pão e chão.

É assim que sempre foram.
Foram poemas de luta,
ainda que mal escritos.

Um dia, eu encontrei
alguém que também lutava.
Que não fazia poemas,
mas que lutava e lutava:
Lutas de Classes.
Lutas de casa.
Lutas de lutas.
Até por mim, também lutou...
E, para ela, Poema Vivo,
bem ou mal, eu escrevi
tantos poemas de amor.


NO CASAMENTO ERA ASSIM...


COMO NA CANÇÃO

O amor que sinto por ti
não tem a bossa dos dissonantes.
Seu tom é simples,
terno e pungente
como um Lá Menor.
Às vezes, explode
franco, alegre e forte
como um Dó Maior.
...Acidentes embelezam sua melodia.


O MELHOR DA MINHA VIDA EM TRÊS ESTROFES

Eu saí de casa cedo
Sem rumo e sem dinheiro
Dei adeus à minha terra
Meu belo rio de Janeiro

Andei todo este país
Fui até ao exterior
Procurando uma cabrocha
Pra lhe dar o meu amor

E foi nas bandas do Acre
Que um dia encontrei
A morena mais bonita
E com ela me casei


QUANDO LONGE DA MORENA

Um rio brota nos meus olhos
quando lembro da morena.
Tão distante,
tão saudade,
que a viola me tem pena.

E essa dor
que no meu peito aperta,
sempre desaguando,
é dor constante.
Esse rio
nunca seca
pois, na morena,
penso a todo instante.

Se eu tivesse
um barco de papel
bem pequeno,
bem menino,
desse meu penar,
eu tiraria o véu.
Nesse rio,
também eu, um pequenino,
não navegaria ao léu,
pois teria na morena
o meu destino.


CIRANDA DA ESPERA
(Por ocasião das lutas pelas “Diretas”)

Cantando esta ciranda
Vou até o sol raiar
Vou cantar esta ciranda
Até meu amor chegar

Esta ciranda
Linda é minha, é tua
Esta ciranda
É do povo na rua

Cantando esta ciranda
Vou até o sol raiar
Vou cantar esta ciranda
Até meu amor chegar

Esta ciranda
Eu canto a noite inteira
Para alegrar
A Nação Brasileira

“Ciranda, cirandinha
Vamos todos cirandar...”


TROVAS DE AMOR E SAUDADE

Quando me encontro distante
Daquela que tanto amo
Sou qual flor desfalecida
Que desprendeu-se do ramo

Meu corpo todo se agita
À simples lembrança tua
Deitada juntinho a mim
E... completamente nua

Meu amor vive no encanto
De estar nos braços teus
Também na saudade tua
Tão longe dos olhos meus

Iria ao encontro dela
Se fosse fácil voar
Mas, voar é com os pássaros
... Por ela, fico a esperar

O cheiro dessa morena
O néctar de sua flor
A textura de seu corpo
São meus venenos de amor

A saudade me tortura
E triste é minha canção
Só tua volta trará
Descanso ao meu coração

Teu corpo é uma linda flor
De um aroma precioso
De pétalas tão sedosas
E néctar delicioso

Os astros todos espiam
Um homem... uma mulher...
Fiquemos sempre juntinhos

Dindinha Lua assim quer


UMA CARTA DE AMOR


Se meu amor por Normélia
For a mais braba doença
Eu não quero nem pensar
Na tal da convalescência

E, se um dia, eu ficar bom
Cicatrizando a ferida
Vou fazer estripulias
Para ter a recaída


MOURÃO DE GRATIDÃO

Esta viola de fita
Que eu toco a toda hora
‘Tando aqui ou indo embora
Torna a vida mais bonita
Cada nota nela escrita
Chega a cada coração
Acabando a solidão
Pro mundo ser festejado
Isso é que é mourão voltado
Isso é que é voltar mourão

Pro mundo ser festejado
Isso é que é mourão voltado
Isso é que é voltar mourão

Levo a vida ao deus-dará
Vagando léguas e léguas
Em caminhadas sem tréguas
Mas, por mais longe que eu vá
Sempre tenho a quem voltar
Mesmo com chateação
Me recebe com emoção
E me sinto consolado
Isso é que é mourão voltado
Isso é que é voltar mourão

E me sinto consolado
Isso é que mourão voltado
Isso é que voltar mourão

Penso com muito carinho
Em minha amada que é Normélia
Que é dália, rosa, é camélia
Flores que formam um ninho
Onde findo o meu caminho
Surrado por muito chão
Sinto minha gratidão
Por berço tão adornado
Isso é que é mourão voltado
Isso é que é voltar mourão

Por berço tão adornado
Isso é que é mourão voltado
Isso é que é voltar mourão


DE NOME ESQUECIDO E CHEIRO LEMBRADO

N o meu longo caminhar
O nde só havia espinho
R ecebi luz dos teus olhos
M e alumiando o caminho
É s como um buquê de flores
L ibertando-me das dores
I ncerteza e dissabores
A dornando nosso ninho


Não sou o experto que pensava ser.
Apenas um bobo apaixonado
que, como todo romântico.
qualquer mulher faz-lhe o que quer.
Ela
é a Chica-que-manda
e eu,
o seu Contratador-sem-diamantes.
... Atropelou-me
como uma jamanta!
Mas meu amor por ela
é Prometeu Acorrentado.
Resiste.


Sentado no beiral da ponte,
pensei...
Ouvi o rio,
seu murmúrio.
Vi os barcos ancorados,
outros vagando.
O rio falou mais alto...
Ele transporta vida.
Em seu leito
há vida.
Choramos
quando algum rio é envenenado,
fazemos passeatas.
O próprio rio
com seu movimento
parece estar vivo
e não apenas ser
um composto químico inorgânico
seguindo um declive.
Não, ele todo nos mostra
vida.
Não deve ser berço
para a morte.

Por covardia ou coragem,
aqui estou escrevendo.
Uma coisa é certa.
Não é o rio
que tem que dar um jeito
em nós dois.

... E VEIO A SEPARAÇÃO


É de noite,
em minha vida
se faz dia.
Não durmo!
Espero.

Seu sol laborioso
será minha noite ociosa.
E o dia
que a acorda tão de repente,
faz o meu morrer devagar.

Deixo de pensar nela
para  com ela sonhar.



GALLARDA CELOSA
(Por causa de um espanhol)

Minha vontade, agora,
mais que fazer um poema
ou desfazer o dilema:
Ir pro bar
beber.
Descambar,
morrer.
Recordar,
sofrer.
E, quiçá,
viver.
Minha vontade, agora,
mais que fazer gallardas;
da vida, dar gargalhadas;
sair numa “flamengada”.
Minha vontade, agora,
era mesmo dar porrada.

AINDA POR CAUSA DO ESPANHOL

O muito que aconteceu
Muito pouco me doeu
“Usted quitó la alianza”
Balançou minha esperança



Todo saber da ciência
neste meu caso é em vão.
Toda filosofia...
Um bom papo
já tentei.
Fazer cenas
foi inútil.
Estou mesmo carregado,
cagado de arara,
com peso, um encosto,
azarado.
E, apesar
da minha ligeira inclinação
pro Marxismo-Leninismo,
vou acabar mesmo
partindo pra metafísica,
para o sobrenatural.
Vou fazer mandinga,
seguir as receitas de São Cipriano,
subir de joelhos a escada da Penha,
acender uma vela pra São Jorge,
benzer-me na igreja do Bonfim,
fazer romaria no Juazeiro
e visitar a Mãe Menininha.
Tomar conselho com Pai Joaquim,
encontrar com Exú, na encruzilhada,
botar pirâmide sobre a cama
e tomar banho de arruda.
Jogar o I Ching, búzio e tarô.
Consultar o oráculo
e o horóscopo chinês.
Estudar meu mapa astrológico,
banhar-me nas águas do rio Ganges,
meditar com os monges do Tibete,
dar presentes aos deuses do Olimpo,
cantar hinos a Vênus, Eros e Apolo...
Vou apelar.
Andar com pé-de-coelho,
ferradura, figa benta,
cabelo de elefante e um bentinho.
Mirar com o Santo Daime
e fazer pedido na Ponte dos Suspiros.
Atirar moedas na Fontana di Trevi,
em  qualquer fonte, poço ou mesmo poça.
Faço tudo.
Faço de tudo.
Mas tenho de achar um jeito
de estar novamente nos seus braços.


“Nur wer die Sehnsucht kennt
Wais was ich leide”

Se Goethe, como eu,
conhecesse a palavra
saudade,
talvez pudesse
expressar melhor
seu sofrimento.
A “Sehnsucht” dos alemães
não basta para tanto
sentimento.

MAS NOSSO AMOR TEM JEITO NÃO



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