Emanuel
era muito querido. Vivia cercado de muita gente. Também de alguns que não lhe
largavam o pé, mas que não lhe incomodavam, pois partilhavam gostos e
interesses. Tinha certos dons que poderiam fazer dele um homem muito rico.
Muito mais rico do que conseguiria ser exercendo a sua profissão. Sim, ele
tinha um ofício que aprendera com o pai, mas preferiu a vida mais simples da
mendicância, que lhe era tão fácil que nem precisava pedir, visto que em toda
parte havia quem carecesse dos benefícios dos seus dons. A troca se fazia
naturalmente e ele aceitava de bom grado fosse o necessitado um pobretão ou um
ricaço. Uma galinha para dividir por doze ou um banquete era aceite com a mesma
alegria, mais pelo benefício concedido que pelo recebido. Mas que ele era
chegado a um bom rega-bofe, isso era! Não pensava duas vezes ao receber um
convite para uma festa de casamento, um velório ou uma ceia. Certa feita, foi
com tanta vontade à mesa, que o anfitrião o repreendeu por não ter lavado as
mãos como era o costume naquela terra. O homem levou com uma na testa que nunca
mais chamaria a atenção de alguém mesmo que esse alguém comesse num chiqueiro. Uma
boa festa não se podia perder, tanto que num casamento, diante da lamentação
dos donos da casa de que o vinho seria pouco para os convidados de última hora,
ele resolveu logo o problema com as moringas d’água. Mesmo sem festa ou
solenidade, ele não gostava de ver barriga vazia. Conta-se que numa palestra
das que gostava de proferir em suas andanças, o sermão havia se alongado em
demasia e o povo que era muito reclamou que a comida era pouca, ele também
resolveu aplicando os seus dotes naturais. Mas, uma vez, ele passou das
medidas. Vou contar como foi, que me contaram. Emanuel tinha sido chamado para
um velório que aconteceria numa terra em que o costume era servir-se acepipes e
bons licores aos participantes. Porém ele estava assediado por uma horda de
necessitados e só conseguiu se desvencilhar quase uma semana depois do enterro
ter-se realizado. Ele não conversou. Ressuscitou o homem e fizeram uma festa
dupla.
Escrevi pensando no
Ronaldo Rhusso que não pensa duas vezes em fazer bem o bem.
Jorge Carlos
Petrópolis, 20 de setembro de 2014
2 comentários:
A tua criatividade comove, amigo! A gente vai lendo e vai se sentindo agraciado com belas histórias do Mestre... Agradecido de coração feliz!
Caramba Jorge! Esse seu artigo dedicado ao irmão Ronaldo, ficou genial e ele por sua vez entende a lei: DAI E RECEBEREI. Quando se tem consciência da vida e das leis do Universo se precisa agir assim, pois é nosso dever ajudar ao menos favorecido. Parabéns a ambos.
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