sábado, setembro 20, 2014

Emanuel, o mendigo festeiro

Emanuel era muito querido. Vivia cercado de muita gente. Também de alguns que não lhe largavam o pé, mas que não lhe incomodavam, pois partilhavam gostos e interesses. Tinha certos dons que poderiam fazer dele um homem muito rico. Muito mais rico do que conseguiria ser exercendo a sua profissão. Sim, ele tinha um ofício que aprendera com o pai, mas preferiu a vida mais simples da mendicância, que lhe era tão fácil que nem precisava pedir, visto que em toda parte havia quem carecesse dos benefícios dos seus dons. A troca se fazia naturalmente e ele aceitava de bom grado fosse o necessitado um pobretão ou um ricaço. Uma galinha para dividir por doze ou um banquete era aceite com a mesma alegria, mais pelo benefício concedido que pelo recebido. Mas que ele era chegado a um bom rega-bofe, isso era! Não pensava duas vezes ao receber um convite para uma festa de casamento, um velório ou uma ceia. Certa feita, foi com tanta vontade à mesa, que o anfitrião o repreendeu por não ter lavado as mãos como era o costume naquela terra. O homem levou com uma na testa que nunca mais chamaria a atenção de alguém mesmo que esse alguém comesse num chiqueiro. Uma boa festa não se podia perder, tanto que num casamento, diante da lamentação dos donos da casa de que o vinho seria pouco para os convidados de última hora, ele resolveu logo o problema com as moringas d’água. Mesmo sem festa ou solenidade, ele não gostava de ver barriga vazia. Conta-se que numa palestra das que gostava de proferir em suas andanças, o sermão havia se alongado em demasia e o povo que era muito reclamou que a comida era pouca, ele também resolveu aplicando os seus dotes naturais. Mas, uma vez, ele passou das medidas. Vou contar como foi, que me contaram. Emanuel tinha sido chamado para um velório que aconteceria numa terra em que o costume era servir-se acepipes e bons licores aos participantes. Porém ele estava assediado por uma horda de necessitados e só conseguiu se desvencilhar quase uma semana depois do enterro ter-se realizado. Ele não conversou. Ressuscitou o homem e fizeram uma festa dupla.

Escrevi pensando no Ronaldo Rhusso que não pensa duas vezes em fazer bem o bem.

Jorge Carlos


Petrópolis, 20 de setembro de 2014

2 comentários:

Ronaldo Rhusso disse...

A tua criatividade comove, amigo! A gente vai lendo e vai se sentindo agraciado com belas histórias do Mestre... Agradecido de coração feliz!

Lírian Tabosa disse...

Caramba Jorge! Esse seu artigo dedicado ao irmão Ronaldo, ficou genial e ele por sua vez entende a lei: DAI E RECEBEREI. Quando se tem consciência da vida e das leis do Universo se precisa agir assim, pois é nosso dever ajudar ao menos favorecido. Parabéns a ambos.