sexta-feira, novembro 08, 2019

Turismocultura ou Culturismo

No Calçadão de Copacabana será colocada uma longa estante com obras de Machado de Assis, Lima Barreto, Nélida Piñon, Gilberto Freyre, Euclides da Cunha... traduzidas para o inglês americano, chinês e árabe. Sem tradução estarão as obras de Guimarães Rosa e Patativa do Assaré. Milton Santos que, por enquanto escapou da fúria que baniu Paulo Freire, também estará patente. Ao fim do grande escaparate, uma tenda com renomados nomes do teatro recitarão os poemas de Mano Melo, Eliana Castela, João Veras, Ronaldo Rhusso, Lírian Tabosa, Virginia Finzetto, Líria Porto, Nydia Bonetti, Nathalie Bernardo da Câmara, as três Leilas (Jalul, Oli e Míccolis), Quilrio Farias, Marlos Degani, Sergio Salles Oigers, Sil Lis... de toda a Baixada. 

Toda terça, o Corujão da Poesia será apresentado com tradução simultânea para o idiomas de passe livre. Ana de Hollanda e Natasha Faria cantarão até que a voz amaliamente lhes doa, no bondinho do Pão de Açúcar. Francisco Gregorio contará seus causos para os banhistas da Barra. Druila Pacaya apresentará a sua Dama do Encantado, enquanto aguarda-se a saída dos blocos de Carnaval. Adilson Dias internacionalizará sua Paixão, apresentando-se junto à fila do acesso ao Cristo Redentor. Reinaldo Ribeiro fará o lançamento de seus livros editados em Portugal, em um estande à entrada do Rock in Rio... 

Cultura é o que está a dar!


domingo, março 17, 2019

quarta-feira, janeiro 16, 2019

QUERO O MEU CONTO DE VOLTA


Nunca me vi na vida a mover alguma ação judicial contra alguém ou alguma instituição, muito menos à Empresa de Correios e Telégrafos. Não porque esta não tenha dado motivos. Tive com ela alguns problemas, mas que não chegaram a abalar o apreço que sempre nutri para com essa instituição. Consideração por mim demonstrada literariamente em alguns romances, onde os estafetas são sempre personagens tratadas com o maior carinho.

Cansado da preocupação por andar com um equipamento fotográfico de grande porte que atraía muita atenção, resolvi enviar a câmera e as lentes para a minha filha que mora em Lisboa. No mesmo pacote seguiram dois desenhos de minha autoria e, na memória da máquina, uma foto de sua avó. A encomenda, sob registro, chegou ao endereço destinatário, não foi retirada a tempo e tornou ao endereço remetente. Recebi o aviso, fui à agência, paguei uma taxa, retirei a encomenda e novamente a enviei para outro endereço, aos cuidados do namorado da menina.

Isto de estar seguindo um objeto através do rastreamento deu azo a uma história cuja trama envolvia uma encomenda registrada que seria adulterada. Apenas imaginação. Pronta para ser colocada em forma de conto e participar do Prêmio Ferreira de Castro, concurso realizado pela Câmara de Sintra, no qual já havia sido selecionado certa vez e o prêmio não pode ser oficializado por eu não ter a nacionalidade portuguesa. A cláusula do regulamento que impedia aos não naturais de participarem foi, depois disso, suprimida. Sendo assim, estava apto e disposto a participar novamente do concurso.

Entretanto, a encomenda foi retida na Alfândega Portuguesa por estar, desta vez, sem o valor declarado e sem nota fiscal.  Muito tempo se passou, o bastante para que não se pudesse mais reclamar através da página dos Correios na Internet. Foi-lhe dado o mesmo valor da primeira remessa (Mil reais). Razoável para os dois mil e quinhentos de valor de compra.  Mais uma vez, nem a filha, nem o seu namorado foram a tempo para buscar a encomenda que voltou ao Brasil.

Acompanhava pelo mecanismo de rastreamento até que soube que já estava na Agência do Engenho de Dentro, a mais próxima de onde moro. Esperei o aviso que não veio. Com três dias, fui à Agência e já lá não estava. No rastreamento dizia que tinha ido para refugo aguardando destinação. Bom, tenho um ano, por lei, para encontrar a encomenda antes que seja destruída. Fui à cata.

Em uma das contas do rosário que comecei a desfiar, contei para a gerente da agência do Méier sobre o conto que estava a imaginar. Ela deu um pulo! E disse que tal situação nunca poderia acontecer. Desisti do conto. Afinal, o meu carinho pelos estafetas continua e não procederia inventar uma situação só por capricho literário. E, ora bolas, a encomenda já tinha ido e voltado uma vez. Sem danos. Apenas com a caixa muito maltratada. Não escrevi e nem participei do concurso. Por sorte, quem ganhou o concurso esse ano foi Cláudia Neves Fernandes (Victória F.), escritora portuguesa, minha amiga. E fiquei contente na mesma!
Esgotadas as contas dos três terços, levei a questão ao PROCON para procurar saber por que não se devolvia a encomenda mesmo eu apresentando o número de registro. Na resposta a Empresa de Correios alega que não fez a entrega por não ter o endereço afixado na embalagem. Acredito que na manipulação alfandegária a caixa tenha sido estragada e a encomenda tenha sido colocada em outra caixa, sem a morada. Mas o número do registro manteve-se!

O Serviço de Proteção ao Consumidor aconselhou-me a levar o caso para a Justiça. Nem ao menos precisaria de advogado caso o meu pedido de indenização por danos morais não passasse de vinte salários mínimos. Porém, como poderia eu chegar a estipular um valor para algo tão subjetivo? Quanto mais poderia eu acrescentar ao valor material declarado?

Lembrei-me da malograda tentativa de escrever o conto, entendi que bem poderia pedir o valor de pecúnia do concurso que com ele participaria. Já que fui dissuadido a escrever o conto, que pelo menos ganhe o valor do prêmio. Tendo em vista que se trata de cinco mil euros, o que equivale, em reais, a mais de vinte salários, vi-me obrigado a procurar ajuda profissional. Fui atrás do amigo e colega de aventuras, Daniel, mas este, não advoga mais. Compreendo. Temos o mesmo espírito romântico. E, se para mim é custoso ir uma vez à barra, imagina um advogado que o tem que fazer por meio de vida. O esperto agora está no Turismo, mas indicou-me a sua tia.

E, afinal, o que me garante que eu venceria o concurso com tal conto? Respondo: A mesma garantia que me dá um número de registro para a devolução de uma encomenda, dentro do prazo legal.

O irônico de tudo isso foi eu mandar para a Europa um equipamento que pouco usava com medo de perdê-lo.