quarta-feira, março 29, 2023

O presente e seus valores

- ... um pra mim, um pra União, um pra mim; um pra mim, um pra União, um pra mim...

- Presidente, o livro?

- Espera lá! Um pra mim, um pra União, um pra mim. Esta caixa levo comigo. Esta outra mando pra casa do amigo. E vou tentar mais uma vez pegar a que ficou na alfândega. Um pra mim, um Pra União, um pra mim...

- Mas, Presidente, o livro?

- Aquele livro? Joguei fora. Um livro velho daquele, seria até sacanagem deixar aquilo pra União. Presente de Roma. Só pode ter sido brincadeira. Presente bom era das arábias. Veja essas joias. Isto sim. Fuzil, pistola, relógio de diamantes... manda esse pro piloto também.

- Mas aquele livro, Presidente...

- Pô! Um livro velho, podre, que não dava nem pra passar as páginas direito que se rasgava todo. Botei no lixo. Também não teve registro. Eu não ia ficar com aquela porcaria.

- Mas Presidente, aquilo era uma Bíblia de Guttemberg. Vale muito.

- Mas, como é que eu ia adivinhar...  um livro tão velho... até dei uma olhada...  com as páginas todas rabiscadas.

- Eram as anotações de Lutero!!!!



quarta-feira, março 15, 2023

Quando Flicts virou Plucts

Andava por aí com um grande livro na pequena bagagem. Uma réplica em tamanho gigante do livro Flicts, do Ziraldo, que havia posto em música em 1989 a pedido de Ozi Cordeiro para a sua montagem no Acre da peça de Aderbal Júnior que se trata de uma adaptação do poema. Sempre que calhava, fazia uma improvisação auxiliado por alguém da audiência com disposição para mudar as páginas enquanto eu contava tocando e cantando a história da cor provinciana que não achava espaço na cidade. Para uma apresentação na Bastide, em Morières-les-Avignon, a organizadora do sarau, Monique Jullien fez a tradução e teve a feliz  ideia de alterar o nome do Flicts, que lembra “policial” para Plucts que remete a plouc “campônio, caipira”. Contei isso para o Ziraldo e ele adorou. Afinal, Flicts é mesmo autobiográfico.

Existem várias canções com este poema e as mais conhecidas são as que Sérgio Ricardo fez para a primeira montagem da peça teatral em 1972 e, hoje, estão gravadas em disco.

Quem quiser pode baixar o poema com a partitura. Não precisa nem passar um PIX, é só clicar AQUI.



quarta-feira, janeiro 18, 2023

Uma rua com o seu dia


Para podermos afirmar isto levamos dez anos e três dias.

Desde que tivemos a ideia que alguma Folhinha Poética fosse ilustrada com placas de logradouros cujos nomes fossem datas históricas, por onde passávamos íamos à cata e também pedíamos que nos fossem enviadas imagens. Ao completar dez anos, havíamos coletado sessenta.  Descobrimos o Google com o seu recurso “street view”... Em três dias conseguimos as 366.

Com medo de não conseguirmos o intento, colhemos as primeiras que apareciam pela frente, daí a baixa qualidade de algumas. Entretanto, como será para 2026, teremos tempo para fazermos as devidas trocas. Portanto, continuamos a aceitar novas imagens. Agradecemos de coração.

Por ora, divirtam-se com as que já cá cantam.














 

sexta-feira, janeiro 13, 2023

O Horror Exposto

Não vou dizer o nome do santo, mas também não foi milagre, apenas uma questão de consciência. Um grupo organizado de pessoas que lutavam contra o regime através da guerrilha urbana, também chamados de terroristas por quem ignora que terrorista maior é o Estado...  A ação seria roubar uma pintura de um museu. Já estava tudo certo: o comprador estrangeiro pronto a pagar uma fortuna, o acesso à sala sem que se precisasse usar de violência, a rota de fuga, tudo muito fácil e sem grandes riscos. Aconteceu que quando a tela já estava em mãos, o chefe da operação disse, autoritariamente: “Ponham de volta no lugar...” Calados, obedeceram, mesmo sem perceber bem o que se passava na cabeça do camarada, que completou “Isso pertence ao povo. Vamos procurar outra coisa, um banco talvez.” E a tela voltou ao seu lugar perfeitamente intacta.


(Tela de Di Cavalcante danificada pelos horríveis manifestantes do Oito de Janeiro)