Quando cheguei a Portugal,
em 1990, já fazia uns dez anos que a música Zé Brasileiro Português de Braga
tinha feito um enorme sucesso e ainda repercutia. O jargão me acompanhou por
muito tempo. Ao me apresentar, alguém mandava logo com o “Brasileiro de Braga?”.
É daquelas músicas chicletes que se você a ouve pela manhã, passa o dia com ela
no ouvido. Um refrão que não há quem não assobie. Para balançar o capacete
então nem se fala! Passei vinte anos em Portugal e até fui a Braga, mas não
cheguei a perceber isto do ser português de Braga. Imaginava que talvez por ser
desta cidade grande parte dos que emigravam para o Brasil. Ou poderia se tratar
de alguma figura folclórica regional. Ninguém me respondia direito. A maioria
dizia que era só por causa de uma música que a Alexandra cantou num Festival da
Canção e que foi tão tocada que chegou a saturar, como é comum acontecer com os
“hits”.
Quatro anos depois de estar
de volta ao Brasil, aos amigos da
terrinha, recebemos o convite do Rodrigues Vaz para irmos a Constância conhecer
o Zé Brasileiro Português de Braga. Achei que o amigo estava com reinação. Não
estava. Fomos ao palacete de três andares, todos três muito bem ocupados por
gatos, chuchus amarelos, arte para todo lado, relíquias, desenhos de Burle Marx...
e um museu com a vida e obra do grande poeta e ator Vasco de Lima Couto, de
quem nosso anfitrião nos presenteou com um envelope cheio de poesia, como tudo
naquele casarão abençoado. No envelope,
o poema que serviu de letra para a canção que António Sala musicou como prenda
de anos para o José Ramoa, o próprio Zé Brasileiro Português de Braga, ali, na
nossa frente, todo saudade e simpatia a exaltar o amigo poeta nas tantas coisas
boas que nos legou.
Identifiquei-me de cara com
o poema por também ter meu tempo adolescente de perdido nas avenidas de
Copacabana.
Eliana deu-me a ideia de
colocá-lo em uma música que permitisse mais facilmente perceber-se a
profundidade daquele mar. Para tal, pensei logo no fado, ao qual o próprio
silêncio obriga. Mas havia que ter um sotaque brasílico consoante a história da
personagem. A isto também se atinou o grupo Azeituna, que a executa em ritmo de
samba, quase que invariavelmente, acompanhada de palmas e exuberante alegria.
Bem, como o Fado e o Samba são irmãos, fiz uma melodia sem muita firula para
cantora Roberta (Romi Kari Oca), que tão bem se adapta aos dois modos, combiná-los. Porém,
o ideal é deixar o poema caminhar por si só, ainda que devagar... o céu é
redondo.
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