quarta-feira, julho 21, 2021

Sakurarana ou A Lição da Yvonete

A observação tinha tudo para ser uma grande gafe, um imenso fora, um verdadeiro despropósito. Para mim não foi nada disso e até entendi manifestamente o sentido da frase inconveniente, o que me fez ganhar uns pontos com a madrasta distraída e perigosamente sincera. Conto como foi:

Fomos visitar alguém que não me lembro quem. Já à chegada, na varanda, as flores que denotavam cuidados e carinhos especiais chamaram a atenção da Yvonete que juntou aos cumprimentos o elogio a uma planta em especial, se não me falha a memória, um antúrio. “Até parece artificial...” disse ela, e concluiu com toda a sinceridade “Daquelas de plástico.”.

Não sendo eu o jardineiro responsável, nem a dona da planta, facilmente conjecturei. As plantas artificiais não tem nenhuma falha, o que lhes dá uma aparência falsamente real. Pensava eu que se fosse o fabricante as faria com alguns defeitos.

Hoje, algumas já são feitas com algumas imperfeições que as tornam mais “naturais”.  E ainda hoje, Eliana e eu, embevecidos que estávamos com a florada das cerejeiras  na serra, sempre vistas ao longe, na mata ou nos quintais, corremos para tirar fotos junto a uma muito vistosa na calçada defronte um restaurante. Muitas tentativas a procura de melhor ângulo no qual o sol destacasse os róseos tons das delicadas pétalas. Um garçom se prontificou em auxiliar a quem, imaginava ele, se tratasse de dois abobados turistas. O polido garçom fez o clique que rapidamente iria para as redes sociais se não fosse eu desconfiar de um sorriso monalísico deixado escapar por alguém. Lembrei logo da Yvonete e fui conferir... Eliana, disse em surdina, não mostra pra ninguém, não. É de plástico.



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