Fascínio.
Era o que a água exercia sobre a menina de quatro anos que nunca podia
banhar-se devido tantos afazeres daqueles que dela cuidavam. Banho de chuveiro?
Não tinha graça. De bacia? Não dá nem pra dar um mergulho. Água que a fascinava
era muita. Em cachoeira, nas piscinas que formam no regato. Ah! Como seria bom
tomar banho assim. Saltar. Esbater-se. Fazer a água respingar por todos os
lados. Ver de perto o que há lá por baixo. Brincar de pega-pega com os
peixinhos que via na piscina natural da casa rica que cuidavam os que dela
cuidavam. E quem cuidava da meninanesse dia de festa na casa pobre dos que
cuidavam da casa rica? Uns jogavam à bola, outros bebiam, outros dançavam.
Nadar? Nem pensar. Seria intimidade demais
com os patrões que já muito faziam em permitir a festa. E a menina? Não deixem
a menina ir para a água. Que é da menina? Meu Deus! A menina não sabia nada
sobre divisão de classes.Que é da menina? Meu Deus!
No
hospital, com tubinhos no nariz. Já com a corzinha rosada das bochechas. Abre os
olhinhos. Olha para todos ao redor da cama. Arreganha um sorriso vitorioso e
diz:
-
Tomei banho!
Sem comentários:
Enviar um comentário