Francisco
e, não consegui decifrar o segundo nome na assinatura, mas com a alcunha de
“Paco”, tinha um trabalho na Espanha que lhe tomava muito tempo e ainda não
rendia o dinheiro suficiente para umas férias no Algarve, coisa que todos os
colegas já tinham feito. Certa vez, ganhou um gordo bônus e foi desta. Iniciou
o périplo por Santiago de Compostela. Foi à Porto 2001; uma visita rápida a
Coimbra e uma boa parada em Lisboa, antes da última semana reservada para o
destino principal. Na pensão, conheceu uma rapariga sueca que retornava do
Algarve. Loura, de olhos azuis, tez temporariamente vermelha... De virar a
cabeça a qualquer mouro. Um idílio iniciou-se entre eles. Um romance muito
rápido já que ela só ficaria um dia em Lisboa antes de voltar para a Suécia. Da
noite passada na pensão, nada sei mas, ao balcão do Tejo bar, enquanto
servia-lhe um uísque sem gelo, ouvia o seu lamento – E balcão de bar é como um
confessionário.
-
Que vergonha! – iniciou, procurando as palavras em português – O que primeiro
atraiu sua atenção foi o facto de eu ser espanhol e ela é uma apreciadora das
coisas de Espanha... Acredita que ela está estudando castelhano só para ler Dom
Quixote no original? E “yo”... Eu...Eu nunca li Dom Quixote! Nem no tempo de
escola. Que “verguenza!”
-
Não liga pra isso, não,companheiro – disse procurando animá-lo – Eu enquanto
português,nunca li Os Lusíadas e, como brasileiro, nunca li por exemplo,Casa
Grande e Senzala... e não tenho complexo por isso. Ele insistiu. Arranjei-lhe
um exemplar do clássico de Cervantes,em castelhano. Todos dias,às horas mortas,
ele vinha ao Tejo bar, pedia um uísque sem gelo e punha-se a ler. Muitas das
vezes, deixava-o sozinho. Quando voltava ao bar, lá estavam um conto para a
bebida e o marcador algumas páginas mais adiante. Foi assim até ao último dia
em que tinha que voltar para o trabalho e deixou o livro com uma dedicatória de
agradecimento e, como gorjeta, o dinheiro que gastaria na estada no Algarve.
Também “gracias” Paco. De como, já sabemos,
agora, o porquê, conjectura-se. Será que sim, será que não ou será que
será? O que acham?
Esse
exemplar do Dom Quixote ofereci-o ao cliente amigo do Tejo bar, Aguinaldo
Parmejane, um sujeito tão quixotesco que, se fosse com ele a história,com
certeza faria ainda mais.Aposto que ele seria capaz até de aprender sueco e ver
todos os filmes do Bergman.
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