Na minha ingenuidade revolucionária sempre achei quase
impossível fazer-se uma revolução no Brasil, tão religioso, tão cristão.
Admirava os povos que conseguiram fazê-la.
Zapata, Sandino, Castro, Louverture... Imaginava eu, como eles agiam
para angariar simpatia para a luta que invariavelmente derrama sangue de irmãos? Com a expansão do cristianismo através da
proliferação de igrejas evangélicas neopetencostais, nunca imaginei que se
pudesse convencer os camponeses e os operários a colaborar com quem empunhasse
uma arma para lutar por uma mudança. Que ingenuidade! Uma nova Cruzada se
avizinha.
Durante a Ditadura Militar fizemos de tudo pelo direito de
escolher os nossos dirigentes. O direito
de voto foi reconquistado, mas em trinta anos percebemos que só isso não
bastava para as mudanças que se fazem necessárias para uma sociedade mais
igualitária. Portanto, eu optei por não votar, nem incentivava ninguém a votar.
Mas também não estava mais lutando. Era partidário do não-voto, do eles-não e
só. Para quê? Não vai mudar nada! Aprendi que só a Revolução para uma Nova
Democracia poderá ser o caminho para um mundo melhor e acredito que ela esteja
em curso. Porém, depois do discurso
telefônico para a Paulista, comecei a titubear. Nesses trinta anos não tivemos
democracia, mas não tivemos o medo que tínhamos nos vinte e um de ditadura
militar.
Bolas, sabemos que o Socialismo, inexoravelmente, será
alcançado. Se não houver um cataclismo ou uma guerra que acabe de vez com esse
globo, a humanidade chegará ao ponto de viver em comunhão com a natureza.
Portanto, não será o meu voto que atrapalhará esse avanço que, acredito, é
científico. Uma Nova Democracia surgirá, mas meu lombo pode levar amanhã mesmo.
Prefiro arriscar a poder passar pelo menos mais quatro anos sem o medo do relho.
Vou votar no Haddad!
Disse arriscar, porque dizem que se o PT ganhar, o fascismo
(último guardião do Capitalismo) que está metastasiado na sociedade, obrigará
as Forças Armadas a um Golpe de Estado. Se assim for, é preferível ter uma
ditadura imposta que a vergonha de se eleger uma. A vergonha de ser nós
próprios a escolhermos um governo em que o Homem não será nada mais que o braço
armado de um Deus que ditará quem são os Seus e quem são os que irão para a “ponta
da praia”.
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