Mais do
que as taxas, chateiam-nos a espera e a burocracia dos serviços públicos, o que
nos leva, às vezes, a lançar mão de alguns subterfúgios. Foi o que aconteceu
comigo a quando das obras na nova casa velha de Alfama e que me deixou duas
noites sem dormir e a pensar que teria sido bem melhor ter arcado com todas as
chatices da legalidade.
O
encarregado da reforma juntou o entulho em sacos plásticos, empilhou-os à porta
e disse-me que desse uma gorjeta para o lixeiro que, com certeza, levaria junto
com a recolha diária. Relutei e até pensei que seria má ideia mas, ao ver o
gari, ao longe, lembrei-me de uma vez que ele, ao entrar no Tejo bar para pegar
o saco de lixo e um cliente ofereceu-lhe uma bebida e ele recusou dizendo que
não bebia e, conversa vai, conversa vem, o cliente ao saber dos apuros que ele
passava com a doença da mulher, deu-lhe uma boa quantia que foi agradecida em
típica cena de noites ébrias entre abraços e olhos mareados. Não briguei mais
com a consciência e passei da intenção ao acto. Discretei a nota e fiz o
pedido.
- Só lixo
doméstico! – taxou com um abano de cabeça e com uma cara que por si só já me
deixaria uma noite inteira de insônia que duplicou quando, ao aperceber-me que da outra vez, fora uma
prenda,um agrado, uma ajuda... desta, o nome era outro... apresentei minhas
desculpas que foram recusadas juntamente com o aperto de mão.
Durma-se
com uma destas!
Sem comentários:
Enviar um comentário