domingo, setembro 15, 2024

O incorruptível almeida

Mais do que as taxas, chateiam-nos a espera e a burocracia dos serviços públicos, o que nos leva, às vezes, a lançar mão de alguns subterfúgios. Foi o que aconteceu comigo a quando das obras na nova casa velha de Alfama e que me deixou duas noites sem dormir e a pensar que teria sido bem melhor ter arcado com todas as chatices da legalidade.

O encarregado da reforma juntou o entulho em sacos plásticos, empilhou-os à porta e disse-me que desse uma gorjeta para o lixeiro que, com certeza, levaria junto com a recolha diária. Relutei e até pensei que seria má ideia mas, ao ver o gari, ao longe, lembrei-me de uma vez que ele, ao entrar no Tejo bar para pegar o saco de lixo e um cliente ofereceu-lhe uma bebida e ele recusou dizendo que não bebia e, conversa vai, conversa vem, o cliente ao saber dos apuros que ele passava com a doença da mulher, deu-lhe uma boa quantia que foi agradecida em típica cena de noites ébrias entre abraços e olhos mareados. Não briguei mais com a consciência e passei da intenção ao acto. Discretei a nota e fiz o pedido.

- Só lixo doméstico! – taxou com um abano de cabeça e com uma cara que por si só já me deixaria uma noite inteira de insônia que duplicou quando, ao  aperceber-me que da outra vez, fora uma prenda,um agrado, uma ajuda... desta, o nome era outro... apresentei minhas desculpas que foram recusadas juntamente com o aperto de mão.

Durma-se com uma destas!


 

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