Corriam
os tempos sombrios da ditadura como sombria era a rua onde dois homens
cumpririam sua missão caso o perigo não surgisse das sombras travestido em
forças da lei e da ordem. Um, jovem estudante universitário expulso por
envolver-se com o movimento estudantil; o outro, advogado de meia idade já há
muito engajado nas causas populares. Esperavam pelo material gráfico que seria
distribuído nos portões das fábricas. O jovem, que tinha o comando da acção,
fica preocupado com o nervosismo acentuado do outro.
-
O que se passa, companheiro?
-
Não é nada.
As
sombras, nesses tempos, invadiam as cabeças e as coisas deviam ser muito bem
esclarecidas.
-
Ou o companheiro me diz já o que se passa ou serei forçado a suspender a
operação.
-
Sabe o que é? É que eu tenho o hábito de usar cuecas. Se eu saio sem cueca eu
fico nervoso, sinto-me desprotegido. É como se eu estivesse nu. Não ria, não.
Deve ser trauma de infância. Sabe... aquela coisa do passarinho não fugir...
-
E você está sem cueca?
-
Pior. Com essa mania. Na pressa, peguei uma calcinha da minha mulher. Agora.
Imagina se há uma rusga... Ser preso como comunista, vá lá, mas como
pervertido?!
As
sombras persistem e o jovem acha a história muito mal contada.
-
Deixa eu ver.
Vermelha.
Mas com rendinhas. Pelo sim, pelo não, suspendeu-se a operação.
Esta história,
acontecida, contou-ma o Zé.
Sem comentários:
Enviar um comentário